Oscares 2020 - Os vencedores e a minha crítica
- Carlus
- 10 de fev. de 2020
- 9 min de leitura

Terminou agora a cerimónia de entrega dos Oscares de 2020, os maiores prémios de cinema.
Os principais vencedores foram:
Melhor Filme: Parasite
Melhor Realizador: Bong Joon Hoo (Parasite)
Melhor Actor Principal: Joaquim Phoenix (Joker)
Melhor Actriz Principal: Renee Zellweger (Judy)
Melhor Actor Secundário: Brad Pitt (Once Upon a Time in Hollywood)
Melhor Actriz Secundária: Laura Dern (Marriage Story)
Melhor Argumento Original: Parasite
Melhor Argumento Adaptado: JoJo Rabbit
Sem dúvida que este ano tivemos um conjunto de filmes muito superior aos nomeados do ano passado, por isso vários poderiam ser os vencedores. No final a surpresa foi vencedor ter sido o mais obvio de todos, mas que não acreditávamos que fosse acontecer: Parasite.
Parasite sai como grande vencedor desta e de todas as cerimónias de prémios deste ano. Faz história também ao ser o primeiro filme não falado em inglês a ganhar o prémio principal. Por vezes, a qualidade de um filme supera tudo, mesmo os grandes nomes e orçamentos, e este é o caso. Parabéns a Hollywood por simplesmente escolher o melhor.
Quanto à cerimónia, na minha opinião teve menos energia que o habitual. A ausência de um apresentador principal faz se sentir, falta o mestre de cerimónias que, tal como nós, nos vai acompanhando durante o serão. E ficou a faltar aquele momento épico de abertura que tanto nos habituamos. Igualmente no decorrer da noite vimos momentos que nem sempre se ligavam com a cerimónia e pareciam apenas estranhos.
De destacar: A interpretação internacional de Into The Unknown de Frozen 2. Ford vs Ferrari vs Will Ferrell, "Cats" e o “Oscar” de Melhores Efeitos Especiais, o discurso genuíno de Bong Joon Hoo a agradecer a inpiração de Martin Scorcese e o apoio de Tarantino, Billie Eilish a cantar Beatles, ver o elenco todo de Parasita no palco e, claro, a tradutora de Coreano!
O que não funcionou: O acto de abertura. Ter o Eminem a cantar o Lose Yourself e ver a cara de muitos no publico que não conheciam a música, Diabe Keaton, vários apresentadores nervosos e a esquecer as fala.
Aproveitando este momento, recentemente publiquei o meu Top de 2019. A minha grande conclusão é que 2019 foi uma ano com melhor experiências em TV e no Cinema. Vê o meu video sobre o meu Top 2019 aqui:
Abaixo podes encontrar a minha crítica aos principais filmes dos Oscares deste ano
1. PARASITE (5/5)

O mais premiado de todos os filmes do ano é, sem dúvida, uma obra prima. Ver um filme falado em coreano é sempre um desafio para quem vê os filmes legendados e não dobrados. Mas aqui, somos presos desde o primeiro minuto. A conversa mundana sobre o WhatsApp e a cobertura de Wifi faz nos ver logo desde inicio o lado real das personagens. E por aí continua. É brilhante a combinação de comédia e drama em todo o filme, que nos conta uma história que nos surpreende constantemente. Tal como em Joker, vemos o impacto da vida urbana na vida das pessoas e as marcas que faz. Mas enquanto em Joker é extremo, em Parasita vemos algo que parece real. Em qualquer uma das personagens vemos alguém que conhecemos. Além disso, no geral o filme é nos apresentado de uma forma ligeiramente o que faz dele muito universal, Não fosse a violência do final, e seria um filme a ver com as crianças.
Mas não é pois não realidade é um filme adulto para adultos verem e pensarem. Progressivamente a história dos pequenos ladrões vai se complicando, e o que nos espera no final é surpreendente e chocante. A comédia termina com violência. Muita violência, não só gráfica, mas principalmente psicológica. Uma grande história e um grande filme que merece todo os prémios que recebeu. E merece ser visto por “quase” todos.
O que mais me marcou neste filme: Quando desencadeia a violência no churrasco no jardim, e vemos uma das personagens a morrer esfaqueada, a história decide nos esfaquear a nós ao vermos todos os "ricos" a fugir em vez de ir ajudar. Ficamos sempre a pensar se não faríamos o mesmo!
2. JOKER (5/5)

Desde sempre que esta personagem funcionou muito bem em cinema, mas nunca a vimos desta forma. Joker é o exemplo de que as histórias de super heróis são muito mais do que meras histórias de ação. O que verdadeiramente atrai as pessoas as estas histórias é o lado mais profundo de cada uma das personagens. As lições que eles nos têm para contar, as tragédias por que passaram e muito mais. Se isso é válido do lado do herói, também o é do lado do vilão.
Joker abre a porta criativa para toda uma nova forma de contar estas histórias. Olhar para o vilão e pensar o que levou a "pessoa" a ser assim! E com isso vem um filme perturbador e profundo. Uma visão dura do que é a demência e do que é a crueldade das cidades. O único filme similar que me consigo recordar é o Taxi Driver, um dos meus favoritos de sempre. E tudo funciona bem aqui.
Todd Phillips traz a sua forma irreverente de contar histórias da comédia para o drama, e essa audácia é um dos pontos fortes. A banda sonora perturba (e ganha um Oscar).
E claro, Joaquim Phoenix. Aqui menos surpreendente, pois o papel e o actor já adivinhavam funcionar muito bem e o Oscar era o mais obvio da noite. Metade do que o filme consegue trazer, é fruto da grande transformação que o actor fez. Mas que transformação. Tão perfeita que por vezes pensamos que foi real. Um filme duro, que nos faz pensar e que deixa uma marca. Claramente, para mim. o melhor de todos os filmes que estiveram na noite dos Oscares na minha opinião. Superior a Parasite por não ter contemplações a contar a história.
O que mais me marcou neste filme: O sequência do assalto no comboio. Ficamos do lado dele e percebemos e sentimos o que lhe vai na cabeça. E por isso, tudo o que acontece a seguir é justificável.
3. 1917 (4,5/5)

Cinema é a experiência. E 1917 é uma experiência. Do momento que o filme começa somos levados numa montanha russa que nos prende até ao fim. Sem dúvida que a técnica usada por Sam Mendes nos prende e cria, para os mais cinéfilos como eu, aqueles momentos em que dizemos a quem está connosco: "Ja viste como ele fez isto?". Mais que merecido o Oscar de Melhor Direção Artística por tudo o que conseguiram colocar no ecrã. Por outro lado, a sensação de vídeo jogo tem a capacidade de nos cativar e prender ao ecrã e, conforme vamos superando etapas, estamos cada vez mais dentro do filme e sentimos que somos o actor principal. Talvez por isso, quando o filme decide que um deles tem que morrer, é cruel e doi muito! Já não sentia a dor de perder uma personagem tão forte como neste filme.
Talvez o unico ponto fraco seja que acaba por se resumir às compenentes técnicas. Para filme de guerra, falta o lado da relevância da histórica, que muitos outros filmes de guerra têm. Este é um filme de um momento pouco importante da Guerra, tendo por isso muito para mostrar, mas verdadeiramente pouco para contar.
O que mais me marcou neste filme: Quando o carro dos soldados se afasta do local da despenho do avião e vemos o corpo morto do companheiro a ficar para traz. A camera circula entre o rosto do amigo triste, o corpo a se afastar e os outros soldados a falar normalmente. Sentimos o mesmo que a personagem principal: dor e a obrigatoriedade de ser indiferente e avançar.
4. ONCE UPON A TIME IN HOLLYWOOD (4/5)

Nunca fui um fanboy do Tarantino. Sempre evitei esse caminho fácil de chegar aos amigos a dizer que adorei o ultimo filme dele. Talvez por isso escolho sempre por ver os filmes dele em casa, depois do histerismo ter passado. E acabo sempre rendido. Reservoir Dogs, Pulp Fiction, Kill Bill e Inglorious Bastards estão entre os filmes mais incríveis que vi. E todos eles, tal como este, mostram a personalidade clara de quem os faz. Mas ficam sempre um pequeno passo abaixo de serem inesquecíveis.
Once Upon a time in Hollywood é no entanto especial. A recriação da época está magistral, os actores são inesquecíveis (principalmente Brad Pitt que lhe vale o Oscar e todos os demais prémios), mas acima de tudo as provocações de Q.Tarantino. Estamos constantemente a ver histórias do passado, mas ligeiramente diferentes. O que parece ser apenas uma brincadeira do filme para nos manter atento, depois no final se revela como sendo o grande elemento. A alteração no destino de Sharon Tate que o filme fez, traz uma nostalgia enorme. Talvez por isso o filme possa ter dois impactos diferentes: Para uns é um filme com um final inesperado e sangrento, muito ao estilo de Tarantino. Quando aparece a tocha, bates palmas como fizemos em Inglorious Bastards pois é o grande irreverente “a la” Tarantino. Para outros é muito, muito mais. Se sabes a história de Sharon Tate e de Charles Manson, vês em cada elemento do filme, não o lado cómico, mas o evoluir lentamente de uma história terrível. Vês inclusive o Bulldog de outra forma. E se sabes como acabou, e quando a tocha aparece e a história foge da realidade para ir para onde gostavas que tivesse ido, dá vontade de te levantares e bater palmas!
E é isso que Tarantino tem de genial, conseguir ser irreverente e ter todas as pessoas a aplaudir. Talvez o seu 10º filme eu o veja no cinema e diga com orgulho que o fui ver.
O que mais me marcou neste filme: A tensão sempre presente a partir o momento que Brad Pitt chega ao rancho e percebes que ele está "na casa do Manson". Brilhante a forma com o Tarantino joga com o espectador que não sabe o que esperar daí e se deixa levar "pela brincadeira"
5. MARRIAGE STORY (4/5)

Desde sempre que nos Oscares está sempre presente um drama familiar, por vezes ganha muitos prémios (como Kramer contra Kramer), por vezes não mas merecia (como Closer). Marriage Story é esse filme. Dois grandes actores nos quais a nossa própria história e a de muitas pessoas que conhecemos. Não somos o Joker, não faríamos o que se fez em Parasite, não estivemos em grandes guerras nem em Hollywood, mas temos relações e sentimentos. Mas a beleza do filme está em colocar o focus no que se vai sentindo no processo de separação e não nos motivos, e acima de tudo no ruído que rodeia o casal e que os empurra verdadeiramente para o fim. Muitas vezes essa não era direção que queriam, mas a raiva, a falta de diálogo, o medo, a família e os egos levam para ai. E claro, os advogados. Falsos e sem interesse no amor, apenas o querem destruir para facturar. E que bem que eles estão neste filme. Quando Scarlett entra na sala da sua advogada e vemos Laura Dern do outro lado sabemos que não vai correr bem. Para as personagens porque para nos sim. Que interpretação tão genial e tão similar à personagem de Big Little Lies. Para mim é como se o Oscar premiasse ambas
A melhorar o filme está aquela sensação de peça de teatro. Mérito de Noah Baumbach, de Scarlett Johanson e Adam Driver que nos encantam com os seus diálogos. Filme obrigatório
O que mais me marcou neste filme: O inicio do filme. Ouvir os textos de elogios e depois passar para a sessão de terapia e assistir ao afastamento entre os dois, a dor que têm, que os impede de dizer o que sentem. É como se estivéssemos numa sala de terapia real.
6. LE MANS 66 (3,5/5)

Neste filme encontras a mistura de um filme de corridas de automóvel, da história de um homem que derrubou barreiras e quebrou recordes, de uma amizade intemporal ou de uma guerra empresarial entre dois gigantes. James Mangold mistura as várias histórias para nos descrever o momento do tempo em que a Ford criou o mítico GT-40 e dos recordes de Ken Mills. Mas fico com dúvida de qual deles é o centro da história.
O único que tenho a certeza é de Christin Bale. O cameleão continua a saber mudar para algo diferente das personagens anteriores, e a ser sempre único e cativante. É para ele que estamos todo o tempo a olhar. Talvez por isso, quando o filme se perde a tentar contar uma história de duelos de empresas, não tenha o mesmo interesse. Fica abaixo do potencial que os meios técnicos e os actores permitiriam.
De louvar, no entanto, a forma fantástica e única como são recriadas as corridas de Daytona e Le Mans da época. Sentimos que somos uma parte activa da corrida (mérito da parte sonora do filme que lhe mereceu um Oscar).
O que mais me marcou neste filme: O dilema constante na personagem de Christian Bale, que nunca sabemos se vai seguir o caminho que esperam dele ou ser irreverente e só fazer o que lhe apetece. Sentimos isso no momento em que ele arranca para a fase final da corrida de Le Mans.
5. THE IRISH MAN (3/5)

É uma honra ainda conseguirmos ver filmes com Al Pacino, Joe Pesci, Harvey Keytel e Robert DeNiro no elenco a serem realizados por Martin Scorcese. Que grandes actores que eles são e como nos conseguem prender à história, mesmo quando ela não tem muito para contar. Com destaque para Al Pacino que sempre que está em cena, enche o ecrã.
De resto, Irish Man é demasiado longo e demasiado sem sumo. Tenta contar a história ao longo do tempo da personagem de Robert de Niro, fazendo paralelos com eventos reais, mas, por incrível que possa parecer, fico a achar ao fim de 3h30 que se contou pouco. Salva o filme o final, permiando os resilientes. Não fosse o facto de Scorcese mostrar os seus dotes no final do filme e de ter o elenco que tem, seria um filme para esquecer.
O que mais me marcou neste filme: A forma fria como nos é apresentada a situação final da personagem principal. A pergunta que o FBI faz no final é marcante: "Porque continuas a esconder a verdade, já só cá está tu. Quem tu podes querer proteger já morreu". Dói mais do que se tivesse morrido com um tiro
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